sábado, 24 de dezembro de 2011

Cosmologia

Este post inicialmente me causou um pouco de dúvidas. Cosmologia ou Cosmogenia? Qual dos dois eu deveria abordar? O que eu escreveria...

No meio dessa confusão, me veio à mente uma carta que representa uma ilha no immram de Mael Dúin contado no livro "O livro celta dos mortos" de Caitlín Mathews, a Ilha dos Ancestrais. E finalmente minha mente se acalmou e me contou o que deveria escrever aqui.

O mundo existe há muito tempo, há incontáveis eras e há honráveis gerações. Muitos povos andaram sobre esta terra, e viram nela detalhes que mostravam a origem deles. Alguns acham que ela foi feita em 7 dias, outros que simplesmente já estava, alguns mais que ela surgiu depois de milhares depois de uma explosão cósmica... não importa qual seja a visão que se tenha, o Mundo está aqui, e fazemos parte dele. Nada explicará todas as perguntas mais profundas sobre o surgimento do mundo e das pessoas e de cada ser que habita este e outros mundos.

Os Celtas, de maneira geral, não possuem uma história da formação do nosso mundo. Mas eu, como meu próprio universo, tenho a minha visão dessa formação. Cada um tem sua própria versão da criação, mesmo que seja baseada na mesma crença de outros, mas sua visão sobre ela, a criação, será pessoal, única. Aceito a teoria do Big Bang na minha mente científica, mas na minha mente simbólica, responsável pela minha fé, vejo de outra maneira. E quem disse que elas não podem coexistir pacificamente? Mas isso já é pra outro tópico! :)
Não importa se você acredita na criação em 7 dias, na criação sob o prisma científico, ou em outra ideia, o que importa realmente é como você está vivendo no mundo, como seus passos estão marcando este mundo.




Havia um mar, cheio de vida, cheio de energia. Uma ponta de terra surge dele. Aquela terra negra, vazia, árida é tocada pelo primeiro raio do sol e como num sorriso, ela se abre para a vida. Um broto surge dela e cresce como um grande carvalho, forte, vigoroso. Banhado pelo Sol e refrescado pelo Mar, esse carvalho floresce, dá frutos e de um longo galho, cai uma bolota. Ao tocar a terra, a bolota se abre criando uma extensão daquela pequena ilha. Outra bolota, e mais uma extensão. A cada novo amanhecer a ilha crescia 9 vezes e a terra antes vazia, dá espaço a grama. E da grama surgem flores, que voam ao sabor do vento criando as borboletas. Uma bolota atinge a grama e a fura, e dela surge um rio. Uma bolota ao atingir a água do rio, cria um peixe rosado. Uma outra bolota cai à terra, à sombra do carvalho, e dela surge um homem que observa a criação ao seu redor e a vê como sagrada. E a cada passo que ele dá, mais a terra se expande sobre o Mar. Outros homens surgem das bolotas aos pés do carvalho e de seus pés surge mais terra. E a terra lhes dá alimento, o carvalho lhes dá moradia, o céu lhes dá conhecimento.. E cada homem percebe que ele próprio é um carvalho, que ele próprio gera suas bolotas e que ele é responsável pela criação desse mundo, pois ele é o mundo e o mundo é ele.

Costumo usar essa visão como meditação diante do meu altar, me conectando ao mundo ao meu redor. E pela primeira vez, ela me pareceu algo mais radiante, algo mais poderoso, algo de maior simbolismo.



"Sobre uma pequena ilha, eles encontraram um antigo salmista; seu nobre semblante era cingido de dignidade; santas eram suas palavras.
Seus cabelos serviam de um brilhante manto, e ele vestia um traje branco e um xale cintilante; ondas de brancura o envolviam.
Nosso grande chefe perguntou: 'de onde vens?' 'Não ocultarei o que me perguntas - da terra dos gauleses.
'Minha peregrinação me levou a atravessar os mares bravios, sem que meu barco se despedaçasse; e não lamentei ir.
'Mas, depois, meu barco se partiu sob mim no mar fervente; uma onda súbita e salgada me carregou até a praia.
'Cortei um pedaço de relva da terra verde-cinzenta de meus ancestrais; uma brida marítima soprou-me ao lugar onde agora me encontro, embora meu barco de relva fosse estreito.
'Eis que o Rei fortalecido pelas estrelas criou uma ampla ilha do maravilhoso gramado, da cor da gaivota sua praia.
'A cada ano, mais um pé era acrescentado à ilha; e melhor que tudo o mais, uma árvore cresceu sobre a onda em crista.
'Um poço puro jorrou para mim com eterno sustento; pela proteção, doce alimento, uma celebração sagrada.
'Cada um de vós irá para casa, uma frutífera companhia sobre a trilha da onda; uma longa jornada, porém, exceto para um homem.'
Pelos anjos protetores, cada homem recebeu meio filão de pão; e com uma farta porção de peixe cada homem foi abastecido."

"O livro celta dos mortos", Caitlín Mathews, pag. 37. Ed. Madras

2 comentários:

  1. Como já lhe disse, achei essa imagem do carvalho e das bolotas maravilhosa... e um dia apropriarei-me dela em uma das minhas meditações!

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  2. vou sim ter a honra de ser o primeiro a comentar^^

    muito bom esse "mito" do homen salgueiro, ali o rodrigo explica sim uma realidade, que até o wallace vivia me falando e eu nao comprendia, mais agora graças ao rodrigo consigo ver melhor tal realidade.

    a realidade de que nos criamos nossa estrada , nos construimos e expandimos nosso mundo seja com grande monolitos , ou com pequenas palavras deixamos nossa marca

    gostei da cosmologia^^ é isso ai !!

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