sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Divindades e Crenças

Recentemente uma coisa me chateou bastante no Facebook e postei uma coisa no meu mural como um desabafo bem grande. As pessoas, às vezes, tendem a querer que os demais acreditem no mesmo que elas, que todos vivam de acordo com as mesmas regras que elas, que o que é proibido ou pecado para elas o seja também para todos os demais. Isso é uma grande besteira! Quando estamos falando de fé, falamos de algo pessoal, MUITO pessoal e se algo é pessoal, não é grupal, não é coletivo. Ainda que 1000 pessoas tenham a mesmíssima religião, haverá 1000 maneira de ver essa religião, porque cada um tem seu ponto de vista, cada um tem seu próprio conflito, cada um tem seu próprio interesse...


Eu acredito nos Deuses Antigos, nos Espíritos da Terra, nos Espíritos do Outro Mundo (que são todos aqueles que já viveram no nosso Mundo) e outras coisas mais fazem parte das minhas crenças, e ninguém, além de mim, precisa acreditar nelas.


E assim era nos tempos antigos. Lembro-me muito bem de uma aula de Língua Portuguesa da minha 6ª série em que estudávamos sobre mitos gregos e minha professora falou que os mitos tinham incontáveis variações, dependendo da região da Grécia onde eles eram contados, e se alguém de outra região os escutasse, não criticaria o contador dizendo que estava errado, mas conseguiria ver por trás das palavras a mesma essência de sua própria versão. Isso fez sentido para mim, pouco para aquela época, mas fez. O mesmo acontecia com os Deuses Celtas. Cada clã, cada povoado, cada região tinha um(ns) Deus(es) patrono(s), geralmente diziam que eram descendentes dele(s), e aquela(s) divindade(s) específica(s) era(m) cultuada(s) em todos os momentos, fazendo parte do corpo de crença daquela região, daquele povoado, daquele clã. Os irlandeses não adoravam todo aquele panteão de Deuses de uma única vez. É possível que algumas tribos nem soubessem de determinadas divindades honradas em outras regiões. E da mesma forma que os Celtas daquela época, somos nós hoje em dia: cada pessoa no mundo acredita numa coisa, seja ela em Deus, Jesus, Buda, Odin... essa é a sua crença, é ali que ela deposita a sua fé, e eu a respeito por isso. Até aqueles que não creem em nada, creem que não creem em nada.


Nasci numa família em que todos conhecem o Oculto e já trabalharam com ele por muitas gerações e sempre tive a liberdade de escolha da minha fé. Mas isso não facilitou para mim. Finalmente me encontrei no RC, no Druidismo, ou seja lá qual o nome que se dê ao que eu pratico e nele encontrei, obviamente, minhas afinidades com o divino. Desde que comecei tinha como adoração um grupo de Deuses que com o tempo foi se fortificando ou enfraquecendo. Hoje, posso dizer que sou "devoto" de 2 Deuses específicos, mas não significa que deixe os outros esquecidos ou renegados: Oghma, que foi por quem me identifiquei desde o início, e até hoje não sei o por quê; Morríghan, minha Mãe e Rainha que está sempre nos meus pensamentos, nas minhas orações e nas minhas oferendas. Tenho carinho por Daghda, Lugh, Manannán, Bríd, Airmid, Tailtiu, Áine... Isso me faz diferente dos demais? Claro, e agradeço aos meus Deuses por isso, pois sei que o que eles mais gostam é da nossa própria diversidade.


E você, no que acredita? Seja no que for, abençoado seja você.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Prática Diária

Quando descobrem que sou pagão geralmente a grande pergunta feita é: "você faz macumba?" E depois vem outras mais sobre o que eu faço, como faço, e se eu tenho uma rotina diferente da dos demais. A resposta é relativa, pois isso depende de como os outros vivem.


Como seguidor do RC (Reconstrucionismo Celta) tenho uma rotina que me parece mais apropriada para o que acredito: sempre que consigo e lembro, agradeço pelo dia que terei, assim que acordo, e peço iluminação para que eu possa fazer algo de útil (ou não, porque às vezes baixa uma preguiça....) e que eu seja protegido; oro sempre, quando estou almoçando ou jantando, agradecendo a Daghda pela comida diante de mim e a Oghma e Morríghan pelas habilidades que me propiciam pagar por ela ou que possibilitaram que outros a pudessem; quando vou dormir (dependendo da quantidade de sono) agradeço pelo dia e pelo que aprendi, agradeço pelos êxitos e fracassos obtidos; agradeço pelos meus pais, meus amigos, meus bichinhos; faço oferendas com alguma regularidade, seja de comida e bebida, ou simplesmente de incenso e vela; oro sobre a água do chá que vai servir de remédio para alguém...


A prática diária é algo tão pessoal e único que não se pode dizer que seja igual a todos nós. Alguns fazem mais do que eu, alguns outros somente realizam 4/8 Festivais anuais. O que se deve realmente ter em mente é que como qualquer religião, o RC deve ser praticado, praticado no sentido mais amplo da palavra, vivido, aplicado, respirado. Sem fanatismo, claro!


Além do fanatismo, algo muito comum no meio pagão - pelo menos até há uns anos atrás, hoje nem tanto - era a modinha. Muitas pessoas estavam caindo de paraquedas numa religião muito diferente das demais porque era, justamente, diferente. Como a grande maioria era adolescentes, eles só queriam chocar os demais e não queriam estudar sobre o que praticavam, se contentavam com um livrinho aqui, um sitezinho ali e pronto!!!, já eram pagãos, se autointitulando sacerdotes disso, sacerdotiza daquilo outro... mas praticar uma religião, viver uma fé demanda estudo, demanda trabalho, demanda, até mesmo, desilusão por que não? Estar aberto para mudar de visão, reconhecer que é possível estar errado. Isso também é uma prática diária que muitos deveriam fazer. :)

Espaços Sagrados

Um espaço sagrado como o nome diz é sagrado, oras! Mas o que é Sagrado? Sagrado é tudo. Se você se conecta ao Mundo, você é Sagrado, e portanto, tudo o que você toca.
Um local sagrado é qualquer lugar onde você possa se sentir confortável, à vontade, para ser quem você é, fazer o que você faz, acreditar no que você acredita. Logo, o seu quarto, a sua cozinha, a sua igreja, o seu círculo mágico e o seu nemeton é sagrado, todos eles são lugares sagrados.


A grande maioria da humanidade tende a viver dentro dessa dicotomia de Sagrado x Profano, Divino x Terreno. Mas qual a grande diferença entre esses dois. Para alguns, muita; para outros, pouca ou nenhuma. Trazendo tudo o que já disse nos outros post, fica claro que no druidismo se estava sempre em contato com a natureza, as pessoas se conectava a ela e faziam parte dela, a reverenciando. Assim sendo, a partir do momento em que estou em contato com ela (não somente físico, mas mental), tudo em mim é Natureza, e se a Natureza é Sagrada, eu também sou, e tudo o que eu produzo e faço. Se estou em comunhão com o meu clã honrando aos Deuses, isso é Sagrado, se estou com meu clã comemorando um aniversário num bar, isso é Sagrado, por que não?


Estive semana passada no cinema com uns amigos e nos sentamos para comer e um conhecido surgiu e se sentou conosco. Conversamos bastante e o tema caiu em religião. Esse conhecido, judeu messiânico, falou algo que me chamou bastante a atenção: na antiguidade o simples ato de se sentar para comer com alguém simbolizava uma aliança entre aqueles que estavam ali, uma maneira de dizer "minha família se une à sua em amizade". Há mais sacralidade nisso do que em muitos cultos por aí (e por culto entenda a reunião de qualquer grupo religioso, de qualquer credo).


Acredito que estamos perdendo a sacralidade das pequenas coisas pondo o Sagrado num lugar tão alto porque não queremos nos comprometer, porque estamos tão afundados em questões somente materiais. Para haver um equilíbrio, devemos viver o Físico e o Espiritual mutuamente, pois os desnível da balança só pode trazer problemas, pendendo para um lado ou outro. Não há ano em que a Parte Clara esteja maior que a Parte Escura e vice-versa.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Elementos

Quando comecei a estudar magia, aprendi sobre a função do Círculo Mágico e dos Elementos na sua criação: Água, Ar, Fogo e Terra. Quando passei à Wicca, esses elementos continuavam. Mas quando passei a estudar os Celtas mais seriamente, vi muita gente falando que esse negócio de 4 Elementos não existia, que levar isso à religiosidade celta era quase um sacrilégio. Alguns ainda tentavam fazer associações entre os 4 tesouros, as 4 províncias, com os 4 elementos. Gente, esse negócio de 4 elementos não existe na cultura celta! Será?


Alguns vão dizer que é evidente, já que os celtas adotavam uma visão tripla, não teria lugar para 4 elementos, tanto que os 3 mundos são: Terra, Mar e Céu. Mas aí eu pergunto: e o fogo de Bríd? Ele, por acaso, não era Sagrado? Por acaso, Armegin, em uma das versões, não disse "Eu sou o Deus que moldou o Fogo para uma Cabeça" (I am God who fashioned Fire for a Head) e em outra versão, "Sou o fogo sobre cada montanha" (I am the fire on every hill)? Logo, o elemento Fogo está presente na religiosidade dos celtas sim! Os 4 elementos existem dentro da nossa espiritualidade, porém, com visões diferentes da que tinham os gregos, por exemplo.


Partindo do princípio que tudo o que está nesta Terra é Sagrado e parte nós, os 4 elementos também entram como parte do Mundo, dos 3 Mundos.


Bem, então quais são os Elementos presentes na nossa espiritualidade? Todos! Desde a mais simples flor no alto da mais gigante colina, quanto o minúsculo verme (ver o conto "Geração dos dois porqueiros").


A Laise mencionou os Elementos contidos no site do Imbas, que eu aprovo e indico a todos, mas no meu ver, ele apenas cria uma relação entre o Mundo e o Homem, uma correspondencia entre os 2. É o Homem Vitruviano de Da Vinci, é como alguns associam o Pentáculo ao Homem (cada uma das pontas simbolizando os membros e a de cima, a cabeça).




Sinta os seu ossos se tornando tão rígidos quanto às rochas, quanto a própria Pedra do Destino, Lia Fáil. Sinta sua pele e carne cobrindo as rochas, seus ossos, criando um Espaço Sagrado, e da montanha mais alta, a grama começa a surgir se estendendo, como os cabelos no alto da sua cabeça. Sinta o sangue correndo em suas veias, como o próprio mar penetrando as cavernas sob a terra. Sinta o vento soprando sobre a terra, alimentando o fogo da forja, dando fôlego á vida. Sinta o raio da Lua tocando a terra, iluminando um poço onde nada um salmão. Sinta o sol aquecendo a terra e a deixando madura, bela, radiante como foi a lança de Lugh. Veja as nuvens correndo no céu, criando as mais variadas formas e inspirando a Natureza a agir. Veja o azul por trás das nuvens, acima do Todo, tocando a montanha mais alta, lá onde é a cabeça do mundo. Sinta todos esses elementos e torne-se uno com o Mundo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Três Reinos

Sempre que estou dando aula e um aluno vê o meu cordão com o triskele que ganhei da Ana, eles querem saber o que significa. Eu penso e dou uma resposta curta e grossa: "são como os celtas viam o mundo: o Céu, o Mar e a Terra". Até hoje ninguém me perguntou nada a mais, não me pediu mais explicações... e eu me acomodei. Mas afinal de contas, o que são esses 3 Mundos que conformam o Mundo? Espero que ninguém aí tenha dito Terra, Céu e Mar.


Se pensarmos nos irlandeses (que é a minha praia), esse era o único cenário que eles possuiam: a Terra em que pisavam, o Mar que os cercava (lembre-se que a Irlanda é uma ilha) e o Céu que os cobria. Era só isso que eles viam, logo, o Mundo para eles era composto por esses 3 reinos distintos, mas que se uniam para criar o Sagrado, se uniam para dar o sustento que eles precisavam.


A Terra (An Talamh) é o plano em que nós, pobres mortais vivemos. É dela que tiramos nosso sustento, é quem nos acolhe, quem nos dá moradia... é a Natureza do post anterior. É quem nos sustenta; O Mar (An Muir) é o Outro Mundo, o mundo dos Ancestrais, das Ilhas do Ultravida... é o local de onde vem os invasores, onde está o Mistério. É de onde vem as Fadas (os Sídhe). É reino de Manannán. É quem nos cerca; O Céu (An Neamh) é o reino do Sol, da Lua, dos Ventos, das Nuvens, dos Pássaros, dos Deuses. É dele que vem o calor que fecunda a Terra e cria vida. É o lar da inspiração, da intuição (apesar da água ter uma afinidade maior para isso). É quem nos coroa.


O Triskele, segundo muitos, significa justamente esses Mundos, como braços de um todo. "E aquela bolinha no meio?" que é a pergunta que ninguém nunca se preocupou em fazer pra mim. Aquela bolinha é quando nós estamos em harmonia com os 3 Mundos. Muitos associam uma grande árvore, com suas longas raízes penetrando o fundo da Terra, atingindo o Mar, a água primordial, e com seus galhos e folhas ascendendo aos Céus como uma imagem para harmonizar-se.


Para encerrar*:


A Terra que me sustenta,
a Terra em mim.
A Terra que me rodeia,
An Talamh.


O Mar que me cerca,
o Mar em mim.
O Mar que me rodeia,
An Muir.


O Céu que me coroa,
o Céu em mim.
O Céu que me rodeia,
An Neamh.


*Acho que raptei esse texto de alguma meditação do Endovelicon.

Terra e Natureza

Na nossa celebração do Solstício, estávamos no carro Laise, Simone, Ulisses e eu. Conversávamos sobre o papel dos Fomoire e dos Tuatha e de todas as outras raças descritas nos mitos irlandeses. Chegamos a uma conclusão que mais tarde descobrimos o Wallace comentando no post sobre Terra e Natureza do blog dele.


Muitos imaginam os Fomoire como os grandes vilões dos mitos, só faltando os bigodes compridos sendo enrolados enquanto a mocinha se debate nos trilhos, enquantos os Tuatha são os mocinhos, o cavalheiro forte que salva a mocinha e o mundo no final. Mas esta visão não seria uma visão celta, pois ela é contrária à própria natureza: nada é puramente bom ou puramente mal. Logo, haveria algo a mais nesse simbolismo entre essas duas raças tão lembradas da Irlanda.


Os Fomoire são a Natureza no seu estado mais puro, mais bruto, sendo de maneira, por que não, incontrolável. Os Tuatha são a Natureza humana, seus anseios, suas habilidades. Um está contra o outro? De maneira nenhuma! Ambos se completam, ambos vivem a partir da coexistência. Por isso Bríd se casa com Bres, por isso Lugh é filho de Fomoire e Tuatha, por isso Bres oferece os segredos sobre o tempo das colheitas a Lugh, porque eles são conhecedores da Natureza.


A Natureza sempre foi um elemento mais forte que a Humanidade, ela se reergue mesmo depois de anos de maus tratos, arrebentando o concreto e desfazendo todas as nossas maiores construções. E não só por isso deve ser reverenciada, assim como muitos povos antigos reverenciavam os locais sagrados que já se encontravam nas regiões "conquistadas" por eles, devemos reverenciar a Natureza porque ela estava lá antes de nós, é o substrato para qualquer conquista do Homem.


Temendo que o meu 3º dia fique muito parecido ao do Wallace, me restrinjo a dizer que essas 2 raças mostram que o Homem não deve se sobrepor à Natureza, ele deve aprender com ela, deve viver coexistindo com ela, coisa que esquecemos hoje em dia. Devemos lembrar-nos sempre disso, pois ao esquecermos da Natureza, esquecemos de nós mesmos, pois nada mais somos do que fruto desta Terra.


E para que fique claro, respeitar a Natureza não significa deixar de comer carne, como muitos podem pensar (já ouvi isso). O que se espera é que respeitemos seu ciclo, reverenciemos aqueles que morrem para nos dar o que comer (seja ele animal ou vegetal), aceitemos que, como uma grande mãe, a Natureza pune se nossas ações não estão de acordo com o "bom caminho". Não foi à toa que com a chegada dos Milesios, os Tuatha foram enviados para dentro de seus Brú, enquanto os Fomoire... bem, os Fomoire continuaram.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Cosmologia

Este post inicialmente me causou um pouco de dúvidas. Cosmologia ou Cosmogenia? Qual dos dois eu deveria abordar? O que eu escreveria...

No meio dessa confusão, me veio à mente uma carta que representa uma ilha no immram de Mael Dúin contado no livro "O livro celta dos mortos" de Caitlín Mathews, a Ilha dos Ancestrais. E finalmente minha mente se acalmou e me contou o que deveria escrever aqui.

O mundo existe há muito tempo, há incontáveis eras e há honráveis gerações. Muitos povos andaram sobre esta terra, e viram nela detalhes que mostravam a origem deles. Alguns acham que ela foi feita em 7 dias, outros que simplesmente já estava, alguns mais que ela surgiu depois de milhares depois de uma explosão cósmica... não importa qual seja a visão que se tenha, o Mundo está aqui, e fazemos parte dele. Nada explicará todas as perguntas mais profundas sobre o surgimento do mundo e das pessoas e de cada ser que habita este e outros mundos.

Os Celtas, de maneira geral, não possuem uma história da formação do nosso mundo. Mas eu, como meu próprio universo, tenho a minha visão dessa formação. Cada um tem sua própria versão da criação, mesmo que seja baseada na mesma crença de outros, mas sua visão sobre ela, a criação, será pessoal, única. Aceito a teoria do Big Bang na minha mente científica, mas na minha mente simbólica, responsável pela minha fé, vejo de outra maneira. E quem disse que elas não podem coexistir pacificamente? Mas isso já é pra outro tópico! :)
Não importa se você acredita na criação em 7 dias, na criação sob o prisma científico, ou em outra ideia, o que importa realmente é como você está vivendo no mundo, como seus passos estão marcando este mundo.




Havia um mar, cheio de vida, cheio de energia. Uma ponta de terra surge dele. Aquela terra negra, vazia, árida é tocada pelo primeiro raio do sol e como num sorriso, ela se abre para a vida. Um broto surge dela e cresce como um grande carvalho, forte, vigoroso. Banhado pelo Sol e refrescado pelo Mar, esse carvalho floresce, dá frutos e de um longo galho, cai uma bolota. Ao tocar a terra, a bolota se abre criando uma extensão daquela pequena ilha. Outra bolota, e mais uma extensão. A cada novo amanhecer a ilha crescia 9 vezes e a terra antes vazia, dá espaço a grama. E da grama surgem flores, que voam ao sabor do vento criando as borboletas. Uma bolota atinge a grama e a fura, e dela surge um rio. Uma bolota ao atingir a água do rio, cria um peixe rosado. Uma outra bolota cai à terra, à sombra do carvalho, e dela surge um homem que observa a criação ao seu redor e a vê como sagrada. E a cada passo que ele dá, mais a terra se expande sobre o Mar. Outros homens surgem das bolotas aos pés do carvalho e de seus pés surge mais terra. E a terra lhes dá alimento, o carvalho lhes dá moradia, o céu lhes dá conhecimento.. E cada homem percebe que ele próprio é um carvalho, que ele próprio gera suas bolotas e que ele é responsável pela criação desse mundo, pois ele é o mundo e o mundo é ele.

Costumo usar essa visão como meditação diante do meu altar, me conectando ao mundo ao meu redor. E pela primeira vez, ela me pareceu algo mais radiante, algo mais poderoso, algo de maior simbolismo.



"Sobre uma pequena ilha, eles encontraram um antigo salmista; seu nobre semblante era cingido de dignidade; santas eram suas palavras.
Seus cabelos serviam de um brilhante manto, e ele vestia um traje branco e um xale cintilante; ondas de brancura o envolviam.
Nosso grande chefe perguntou: 'de onde vens?' 'Não ocultarei o que me perguntas - da terra dos gauleses.
'Minha peregrinação me levou a atravessar os mares bravios, sem que meu barco se despedaçasse; e não lamentei ir.
'Mas, depois, meu barco se partiu sob mim no mar fervente; uma onda súbita e salgada me carregou até a praia.
'Cortei um pedaço de relva da terra verde-cinzenta de meus ancestrais; uma brida marítima soprou-me ao lugar onde agora me encontro, embora meu barco de relva fosse estreito.
'Eis que o Rei fortalecido pelas estrelas criou uma ampla ilha do maravilhoso gramado, da cor da gaivota sua praia.
'A cada ano, mais um pé era acrescentado à ilha; e melhor que tudo o mais, uma árvore cresceu sobre a onda em crista.
'Um poço puro jorrou para mim com eterno sustento; pela proteção, doce alimento, uma celebração sagrada.
'Cada um de vós irá para casa, uma frutífera companhia sobre a trilha da onda; uma longa jornada, porém, exceto para um homem.'
Pelos anjos protetores, cada homem recebeu meio filão de pão; e com uma farta porção de peixe cada homem foi abastecido."

"O livro celta dos mortos", Caitlín Mathews, pag. 37. Ed. Madras

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Por que o druidismo?

Por que o druidismo?


Bem, por que não?


Venho de uma família de bruxos de muito tempo. A magia e a visão do mundo diferente da dos demais já corria em minhas veias.


Desde cedo o Sobrenatural me chamava atenção e o correr da vida também. Ouvia desde pequeno sobre a movimentação do Sol durante o ano, das nuvens e o que elas trariam, das ervas que podiam curar isso ou aquilo, via as flores desabrochando e as árvores crescendo... a Natureza sempre foi parte da minha vida, assim como a História e Mitos de vários povos. E nesse mundo, fui acreditando na magia e querendo aprender sobre ela cada vez mais. Estudei vários caminhos mágicos: Cerimonial, Angélica, Wicca... mas algo ainda não estava completamente certo em mim.


Quando estudava a Wicca, e todo aquele papo de origens celtas, algo finalmente aconteceu, lembrei que sempre tinha uma queda pela Irlanda, mesmo sem saber ao certo o que ela era (rs), mas algo me fascinava, algo me lembrava de casa e sentia saudades ao ver suas paisagens verdejantes... pronto, foi ali que descobri que minhas raízes, meus anseios, meu espírito não podia ser outra coisa além de irlandês.


Comecei a ler sobre os Deuses, os mitos, a aprender o Gaeilge... comecei a procurar pessoas que gostassem do mesmo e encontrei um anúncio num jornal sobre um curso aqui no RJ. Entrei em contato com o pessoal de lá e fui participar de um workshop de irlandês, e ali conheci os que mais tarde seriam meus irmãos de clã.


Ou seja, o druidismo foi aquele que se encaixou a coisas que já haviam em mim, mas que talvez eu ainda não soubesse, ou tivesse esquecido... foi o druidismo que deu suporte à visão que eu tinha desde pequeno do mundo que me cercava, foi o druidismo que fortaleceu o meu elo com a Natureza, foi o druidismo que me mostrou a origem da inspiração que sentia e das coisas que eu via. E tem sido ele que tem me mostrado meu lugar neste mundo.


Por que o druidismo?
Porque foi o caminho que me mostrou quem eu era.


Slán go fóill.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fáilte a chardie

Fáilte a chardie dom.


Sejam bem-vindos ao meu blog, Bough Shailí, que significa Galho de Salgueiro-branco.
Essa árvore do ogham é repleta de inspiração e que nos auxilia a entrar em contato com o nosso eu-interior, portanto, nada melhor do que ela para nomear este blog, cuja ideia inicial é participar dos "30 dias druídicos".


O 30 dias druídicos foi iniciado pelo Endovelicon no seu blog O Bosque do Javali, seguido pelo Wallace no Barddkunvelin e agora pela minha irmã de clã Laise.
A proposta é falar sobre o Druidismo em 30 dias, sob a nossa visão dele e seus elementos. Tarefa difícil, para mim, mas que em honra aos Deuses aceitarei.


Eis o conteúdo dos 30 dias:


1. Por que o Druidismo?
2. Cosmologia
3. Terra e Natureza
4. Três Reinos
5. Elementos
6. Espaços Sagrados
7. Prática Diária
8. Divindades e crença
9. Ancestrais
10. Espíritos da Natureza
11. Ritual
12. Roda do Ano
13. Inspiração
14. Meditação
15. Histórias
16. Poesia
17. Ética
18. Ciência e Filosofia
19. Magia
20. Oração
21. Vida Consciente
22. Família-Amigos
23. Comunidade
24. Trabalho
25. Pisando Leve
26. Distrações
27. Um dia druídico
28. Caminho
29. Futuro
30. Conselhos

Para aqueles que vierem ler o conteúdo já os advirto, eu sofro de DDA (Déficit de Atenção) :)

Slán go fóill