quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Inspiração

Há muito tempo o homem atribui a seres exteriores a inspiração que os leva a criar as mais diversas obras. Sejam esses seres Musas, Deuses, Fadas, Aliens... nunca o homem atribui essas ideias a ele próprio, deixando para si o papel de receptáculo, de veículo das vontades superiores. Porém, a inspiração não servia somente para a criação de obras, seja de natureza física ou poética, era também usada para fins proféticos. 


Imbas Forosnais, a Sabedoria através da Iluminação, era uma prática muito utilizada pelos druidas irlandeses. Mais especificamente através da ingestão de carne crua e logo entrada num estado de transe em que respostas e ideias viriam do Outro Mundo. Obviamente não era a simples ingestão da carne crua que daria ao druida tais poderes, porém, pouco se sabe ainda sobre essa prática.


Fato é que a Inspiração, a Iluminação, a Voz... tudo isso é uma prática antiga e sempre acontece de fora do corpo, de fora do homem.


Bríd, a deusa honrada no Imbolc, é uma deusa associada à Inspiração poética, sendo adorada pelos fili. Sua inspiração queima como o fogo, assim como o fogo que cria as mais belas armas e outros objetos de metal e o fogo que cura; Morríghan também é uma deusa associada à inspiração, Inspiração Profética, sendo aquela, também, que se pede inspiração para combater os inimigos.


O Divino sempre causou espanto e júbilo aos homens e é dele que vem as ideias que nos surgem, que nos permitem discursar, contar, declamar, criar, vaticinar...

Roda do Ano

A Roda do Ano da grande maioria dos pagãos hoje se divide em 8 rituais, cada um celebrando uma data importante dentro de seu calendário. No meu clã, celebramos 8 Festivais, os 4 do calendário celta: Lughnasadh, Bealtaine, Imbolc e Samhain e mais 4 celebrando os 4 momentos astronômicos pelos quais passamos: Lá Fhéile Eoin (Solstício de Verão), Lá Fhéile Fómhair (Equinócio de Outono), Lá Fhéile Geimhreaidh (Solstício de Inverno) e Lá Fhéile Earraigh (Equinócio de Primavera). Não vou entrar em detalhes sobre cada um desses Dias, pois acredito que ao menos uma vaga ideia do que eles reprensentam é conhecido de todos aqueles que aqui pararam.


Todos esses Festivais foram observados desde épocas imemoriais, por vários povos de diversas partes da Terra. Algumas alterações obviamente acontecem, principalmente quanto a data em que se celebram, divindades honradas, nomes dados, práticas...
Dentro do calendário gaélico muitas celebrações se sobrepõe dependendo da região. Durante o Solstício de verão, alguns celebram Áine, outros pagam tributos a Manannán. Mas como dito no post sobre Divindades, os deuses não eram os mesmos nas muitas regiões da Irlanda e do mundo celta, assim sendo, os próprios Festivais, a Roda do Ano, não pode ser igual.


Há pagãos que usem a Roda do Ano Padrão (a conhecida de 8 rituais) celebrando com as datas do Hemisfério Norte, há os que a façam com as datas do Hemisfério Sul. E isso faz diferença, pra alguns não, pra mim... Não me sentiria confortável celebrando o Geimhreadh em pleno verão carioca de 40º, é simplesmente algo que não casa com a minha mente, nem meu corpo.

Ritual

Ritual, Feitiço, Encantamento... são 3 palavras que muito se ouve dentro do mundo pagão e magístico. O Encantamento são as palavras usadas para concentrar a mente no foco que se quer, daí o nome, pois em tempos medievais essas frases eram rimadas e pareciam como cânticos; Feitiço é qualquer ato mágico, usando encantamento ou não, com a intenção de se mudar algo neste mundo; Ritual é uma espécie de feitiço, mas mais pontual, mais solene, mais grupal... não é a toa que algo que acontece com frequência chamamos de ritual.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Espíritos da Natureza

Tenho um amigo irlandês que é fotógrafo, apresentador de um programa de tv e escritor. Ele há um tempo perguntou sobre experiências com "elementais da terra", pois é o tema de um dos próximos livros. E eu contei pra ele alguns dos meus contatos com esses seres. E enquanto contava minha história a ele, lembrei de muitas outras que ouvi antes e de muitas outras histórias como essas que milhares de pessoas tem para contar por todo o mundo.


A existência desses Espíritos não é exclusividade dos celtas, muitas outras culturas os conhecem, apenas dão outros nomes a eles. Aqui no Brasil temos vários desses contos como o Saci, a mula-sem-cabeça, Iara e tantos outros. A grande questão é que esses Espíritos estão sobre (e sob) esta terra há muito tempo, há incontáveis eras. Há muitos filmes que podem contar suas histórias, mas o mais recente que vi foi "Não tenha medo do escuro". Tirando o tom de terror do filme, o filme dá algumas dicas sobre esses seres.


Quando eu morava num sítio, aqui no Rio, eu sempre escutava barulho ao redor da casa à noite e com o tempo, à medida que eu ia fazendo as minhas oferendas e os meus trabalhos, eles começavam a entrar em casa e era possível escutar os passos andando pela casa e às vezes até mesmo mexendo nas coisas. Claro que eu morria de medo, mas era um medo do desconhecido, pois nunca os havia visto. Um dia, depois de fazer algumas coisas em casa, aproveitei que estava sozinho e deitei no sofá para dormir um pouco. Acordei um tempo depois meio grogue ainda e vi, parado diante de mim, uma criatura marrom, bem terrosa, segurando um cajado me olhando fixamente, como me estudando. À medida que eu ia finalmente acordando todo o corpo e começava a poder me mexer, a criatura foi desparecendo. De início fiquei com medo, mas sempre que me lembrava da expressão daquele Espírito, eu me sentia calmo novamente. Acho que eles tiveram mais curiosidade em saber quem era aquele que deixava coisinhas para eles aos pés das árvores ou em pedras pelo caminho.


Esses Espíritos sempre se mostraram pacíficos a mim, talvez porque eu sempre os tenha tratado com respeito, ou porque tive sorte, vai lá saber. Mas já ouvi histórias antigas de pessoas que passaram maus bocados com eles. As fadas do filme que citei apresentavam um lado mal, mas era por outro motivo, era por estarem cobrando o que lhes havia sido oferecido há muitas gerações antes. Até depois que me mudei, continuei recebendo ajuda deles: quando o meu gato Romão (sim, eu dou nome estranho pros meus gatos) fugiu, eu fiquei muito preocupado porque ele é meio bobão e não conhecia a localidade e moro perto de uma movimentada estrada. Pedi a eles que o trouxessem são e salvo. E em algum tempinho ele apareceu com a maior cara de safado do mundo! ^^


Alguns os chamam de fadas, outros de elementais, outros de sídhe. Independente dos nomes, todos eles fazem parte deste mundo, e estão em muito mais contato com ele do que nós. Aprenderemos com eles se nos mantivermos em harmonia com o nosso Mundo, com o nosso eu. Deixe um pouco de leite aos pés de uma árvore, alguma fruta, algo assado por você, cerveja e até mesmo mel e veja que esses Espíritos começarão a ajudar você de alguma forma.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ancestrais

Para escrever o post sobre Cosmologia, o 1º da série, eu me lembrei de uma carta do immram que consta no livro "O Livro Celta dos Mortos", e para escrever esse dos Ancestrais, me veio à mente novamente este livro.


Ancestrais são aqueles que viveram antes de nós e nos moldaram, nos fizeram ser o que somos hoje, sejam essas pessoas parentes de sangue ou não. Eles vivem para além das 9 ondas do Mar, nas muitas ilhas do Outro Mundo. Esses Ancestrais são geralmente relembrados por muitos pagãos no Samhain (1 de maio no Hemisfério Sul), mas eles deveriam ser honrados todos os dias, pois cada respiro que damos, cada pensamento que temos, cada ação é tudo fruto deles.


Esses espíritos estão ao nosso redor com a mesma frequência que os Deuses e os Espíritos da Natureza. Eles estão ao nosso alcance para um conselho, para uma ajuda, para um aprendizado, para um desabafo... basta falarmos com eles. A ideia da proximidade sempre foi tão grande que muito dos povos celtas enterravam seus mortos sob a própria casa para que tivessem em contato contínuo com aqueles que um dia foram seus mestres, seus amigos, seus parentes.


Como disse, esses espíritos não necessariamente são de parentes sanguíneos, podem ser de amigos que já partiram, são espíritos que nos auxiliam desde o nascimento por qualquer que seja o motivo, são os Deuses (no post passado falei sobre algumas tribos que diziam 
descender diretamente de algumas divindades).


Tenho em meu altar um pote (na falta de nome melhor) com terra da minha casa e mais algumas coisas que me lembram todos aqueles que me formaram. E com alguma frequencia 
acendo velas e oro a eles.




Sinta-se relaxado. Sinta a terra sob seus pés, o vento pelo seu corpo, escute o som de folhas ao seu redor. Observe uma árvore deslumbrante diante de você, grande, imponente, tronco grosso, galhos abertos rumo aos céus, folhas de todas as cores, e a vida pulsando dela. Essa árvore tão antiga chama seu nome e você a abraça, e ao fazê-lo, sente-se tão íntimo dela que vocês parecem um. Sinta-se fundindo com a árvore, atravessando a casca 
grossa e indo ao seu interior. Lá dentro, você observa inúmeros rostos, conhecidos e não conhecidos, de pessoas que você amou e que fizeram alguma diferença na sua vida e muitas outras que você nem imagina porque estariam ali. Esses rostos começam a contar suas histórias, a participação deles em sua vida. Você percebe que um dia, seu rosto estará ali, contando sua história a outro que também estará procurando seus ancestrais. Agradeça aos seus Ancestrais por todo o conhecimento que eles trouxeram a você.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Divindades e Crenças

Recentemente uma coisa me chateou bastante no Facebook e postei uma coisa no meu mural como um desabafo bem grande. As pessoas, às vezes, tendem a querer que os demais acreditem no mesmo que elas, que todos vivam de acordo com as mesmas regras que elas, que o que é proibido ou pecado para elas o seja também para todos os demais. Isso é uma grande besteira! Quando estamos falando de fé, falamos de algo pessoal, MUITO pessoal e se algo é pessoal, não é grupal, não é coletivo. Ainda que 1000 pessoas tenham a mesmíssima religião, haverá 1000 maneira de ver essa religião, porque cada um tem seu ponto de vista, cada um tem seu próprio conflito, cada um tem seu próprio interesse...


Eu acredito nos Deuses Antigos, nos Espíritos da Terra, nos Espíritos do Outro Mundo (que são todos aqueles que já viveram no nosso Mundo) e outras coisas mais fazem parte das minhas crenças, e ninguém, além de mim, precisa acreditar nelas.


E assim era nos tempos antigos. Lembro-me muito bem de uma aula de Língua Portuguesa da minha 6ª série em que estudávamos sobre mitos gregos e minha professora falou que os mitos tinham incontáveis variações, dependendo da região da Grécia onde eles eram contados, e se alguém de outra região os escutasse, não criticaria o contador dizendo que estava errado, mas conseguiria ver por trás das palavras a mesma essência de sua própria versão. Isso fez sentido para mim, pouco para aquela época, mas fez. O mesmo acontecia com os Deuses Celtas. Cada clã, cada povoado, cada região tinha um(ns) Deus(es) patrono(s), geralmente diziam que eram descendentes dele(s), e aquela(s) divindade(s) específica(s) era(m) cultuada(s) em todos os momentos, fazendo parte do corpo de crença daquela região, daquele povoado, daquele clã. Os irlandeses não adoravam todo aquele panteão de Deuses de uma única vez. É possível que algumas tribos nem soubessem de determinadas divindades honradas em outras regiões. E da mesma forma que os Celtas daquela época, somos nós hoje em dia: cada pessoa no mundo acredita numa coisa, seja ela em Deus, Jesus, Buda, Odin... essa é a sua crença, é ali que ela deposita a sua fé, e eu a respeito por isso. Até aqueles que não creem em nada, creem que não creem em nada.


Nasci numa família em que todos conhecem o Oculto e já trabalharam com ele por muitas gerações e sempre tive a liberdade de escolha da minha fé. Mas isso não facilitou para mim. Finalmente me encontrei no RC, no Druidismo, ou seja lá qual o nome que se dê ao que eu pratico e nele encontrei, obviamente, minhas afinidades com o divino. Desde que comecei tinha como adoração um grupo de Deuses que com o tempo foi se fortificando ou enfraquecendo. Hoje, posso dizer que sou "devoto" de 2 Deuses específicos, mas não significa que deixe os outros esquecidos ou renegados: Oghma, que foi por quem me identifiquei desde o início, e até hoje não sei o por quê; Morríghan, minha Mãe e Rainha que está sempre nos meus pensamentos, nas minhas orações e nas minhas oferendas. Tenho carinho por Daghda, Lugh, Manannán, Bríd, Airmid, Tailtiu, Áine... Isso me faz diferente dos demais? Claro, e agradeço aos meus Deuses por isso, pois sei que o que eles mais gostam é da nossa própria diversidade.


E você, no que acredita? Seja no que for, abençoado seja você.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Prática Diária

Quando descobrem que sou pagão geralmente a grande pergunta feita é: "você faz macumba?" E depois vem outras mais sobre o que eu faço, como faço, e se eu tenho uma rotina diferente da dos demais. A resposta é relativa, pois isso depende de como os outros vivem.


Como seguidor do RC (Reconstrucionismo Celta) tenho uma rotina que me parece mais apropriada para o que acredito: sempre que consigo e lembro, agradeço pelo dia que terei, assim que acordo, e peço iluminação para que eu possa fazer algo de útil (ou não, porque às vezes baixa uma preguiça....) e que eu seja protegido; oro sempre, quando estou almoçando ou jantando, agradecendo a Daghda pela comida diante de mim e a Oghma e Morríghan pelas habilidades que me propiciam pagar por ela ou que possibilitaram que outros a pudessem; quando vou dormir (dependendo da quantidade de sono) agradeço pelo dia e pelo que aprendi, agradeço pelos êxitos e fracassos obtidos; agradeço pelos meus pais, meus amigos, meus bichinhos; faço oferendas com alguma regularidade, seja de comida e bebida, ou simplesmente de incenso e vela; oro sobre a água do chá que vai servir de remédio para alguém...


A prática diária é algo tão pessoal e único que não se pode dizer que seja igual a todos nós. Alguns fazem mais do que eu, alguns outros somente realizam 4/8 Festivais anuais. O que se deve realmente ter em mente é que como qualquer religião, o RC deve ser praticado, praticado no sentido mais amplo da palavra, vivido, aplicado, respirado. Sem fanatismo, claro!


Além do fanatismo, algo muito comum no meio pagão - pelo menos até há uns anos atrás, hoje nem tanto - era a modinha. Muitas pessoas estavam caindo de paraquedas numa religião muito diferente das demais porque era, justamente, diferente. Como a grande maioria era adolescentes, eles só queriam chocar os demais e não queriam estudar sobre o que praticavam, se contentavam com um livrinho aqui, um sitezinho ali e pronto!!!, já eram pagãos, se autointitulando sacerdotes disso, sacerdotiza daquilo outro... mas praticar uma religião, viver uma fé demanda estudo, demanda trabalho, demanda, até mesmo, desilusão por que não? Estar aberto para mudar de visão, reconhecer que é possível estar errado. Isso também é uma prática diária que muitos deveriam fazer. :)